‘Pai Contra Mãe’ compila narrativas breves de Machado de Assis
Caio Sarack*, O Estado de S.Paulo
21 Julho 2018 | 16h00
Wilhelm Reich (1897-1957) foi um dos maiores pensadores alemães do século 20 e, na obra Psicologia de Massas do Fascismo (1933), ponderou que o dever da psicologia social era explicar “não por que motivo o esfomeado rouba ou o explorado faz greve, mas por que motivo a maioria dos esfomeados não rouba e a maioria dos explorados não faz greve”. Em meio à difusa coerção social, compreendem-se os motivos pelos quais trazemos ordem à desordem mesmo que isso nos custe a própria vida ou a de outro? Se as muitas páginas de psicologia e de ciências sociais parecem colidir e se contrapor, deixando-nos à deriva no mar revolto da sociabilidade e da relação com sujeitos estranhos a nós, a literatura parece funcionar como um machado que rompe a duríssima película que represa nosso rio.
Podemos encontrar um sumo exemplar desse objeto cortante em Pai Contra Mãe e Outros Contos (Editora Hedra), de Machado de Assis, antologia organizada por Alexandre Rosa, Flávio Ricardo Vassoler e Ieda Lebensztayn, que também assinam o ensaio no prefácio da edição: Os Inimigos do Homem Serão as Pessoas de sua Própria Casa: Crítica e Apologia Sociais em Pai Contra Mãe.
“Como um obstetra que nos dá as boas-vindas a este mundo com um tapa que nos faz chorar – bem-vindos ao nosso vale de lágrimas –, o narrador machadiano de Pai Contra Mãe rasga o ventre de seu conto sentenciando que ‘a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel’”. Imaginar a figura negra e epilética de Machado em meio à violência escravista à brasileira ligando-a ao cinismo do narrador que erode a vida psíquica das personagens nos dá a dimensão da profundeza produzida pela literatura; sociedade e subjetividade, convicções morais e utilitarismo se mesclam às palavras, antes ascéticas de dicionário, em meio ao realismo de Machado de Assis.
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*Caio Sarack é mestre em filosofia pela FFLCH/USP e professor do Instituto Sidarta e do Colégio Nossa Senhora do Morumbi