Cristiano Rodrigues Batista
Por mais que digam diferente, mais simples ou elaborado, o grande papel da escola é dar ferramentas para que o jovem encare a vida de verdade fora da bolha que o protege. Como preparar o jovem para um futuro para o qual não se tem certeza de quais profissões ele terá a seu dispor? Ou ainda, como exercitá-lo para essa vida cujos paradigmas estão em constante transformação? A resposta não é simples ou única, mas, definitivamente, é preciso apresentar a esse jovem ferramentas para entender o momento presente em que ele vive.
O pensador italiano Giorgio Agamben ao se perguntar “O que é o contemporâneo?” vai dizer:
Pertence verdadeiramente ao seu tempo, é verdadeiramente contemporâneo, aquele que não coincide perfeitamente com este, nem está adequado às suas pretensões e é, portanto, nesse sentido, inatual; mas exatamente por isso, exatamente através desse deslocamento e desse anacronismo, ele é capaz, mais do que os outros, de perceber e apreender seu tempo. (AGAMBEN, 2009, p. 58-9)
Ele aponta para uma necessidade de distância e não aceitação do senso comum para que se apreenda o atual. Esse anacronismo não significa nostalgia ou um tentativa de viver em outra época: é uma maneira de ter a possibilidade de pensar em algo sem paixões individuais, focando no nível macroscópico da situação.
O SIMA – Simulação Internacional do Madre Alix – acontece anualmente na escola e é um momento ímpar para que o aluno disponha desse lugar reflexivo, no qual ele precisa se deslocar de sua posição original, como aponta Agamben. Surgido pela demanda dos próprios alunos e mediado pelo professor de Geografia, Umberto Cavalheiro, o SIMA é um projeto de debate internacional sobre questões cruciais para que o mundo se encaminhe para a liberdade e para a diminuição das desigualdades. Por meio da discussão regulamentada a partir critérios acadêmicos, os alunos defendem a posição das nações que integram a ONU, fato que, às vezes, não coincide com as próprias ideias. Como resultado, é possível perceber o engajamento dos alunos na construção do próprio conhecimento: eles aprendem a argumentar, a fundamentar ideias, a respeitar a opinião do outro, a trabalhar em equipe e a se perceber como parte fundamental de tudo o que ocorre ao seu redor.
São diversas camadas de aprendizado a serem discutidas sobre o SIMA, mas é fundamental reconhecer que é um espaço de reflexão sobre o momento presente que cerca nosso aluno. É gratificante para a escola perceber como o jovem aproveita esse momento para se apropriar desse lugar e de como ele aprende a se colocar nessa posição de reflexão sobre os processos diversos que compõem a vida no mundo contemporâneo. Assim, temos a certeza de trabalhar para cumprir uma das tarefas fundamentais da educação: preparar o estudante para a vida.
AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Trad. Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009.